Basicamente, podemos encarar o dirigismo desportivo de duas formas.
A primeira é levar as coisas em esforço.
Eis o exemplo acabado: Óscar Rocha, líder da Comissão Executiva do Santa Clara. Falar em “Comissão Executiva” dá imediatamente a ideia de que a vocação do homem não é propriamente ser presidente de um clube de futebol. Uma “Comissão Executiva” faz lembrar uns tipos que se organizaram para arranjar o baile lá da terra. E o pobre Óscar ficou com a responsabilidade de gerir os fundos da quermesse porque era o mais hábil a contar notas de 10 euros e a organizá-las numa caixinha de cortiça, longe do olhar dos bêbados que cirandam à volta do bar com as suas Zundapps barulhentas.
No fundo, dirigir um clube de futebol não é com ele. A expressão diz tudo. Aturar empresários. Planear orçamentos. Aturar egos. Escolher treinadores. Aprovar jogadores da shortlist. Atender telefonemas. Sentar-se ao lado de outros dirigentes que cheiram mal só para parecer cordial. Reunir com tipos que passam o tempo todo a palitar os dentes e a falar da arbitragem, “a porcaria da arbitragem anda a perseguir-nos”. Sofrer a contestação dos adeptos que não percebem nada de contas mas sabem muito bem ver que o passivo está alto. “Nem cum orde do padre cura era capá de meter o passive assim!”, protestam os micaelenses, em arrazoados imperceptíveis. E depois é vir ao continente de 15 em 15 dias e enjoar ao viajar de avião, esperar intermináveis horas em aeroportos e descobrir que as suas vacas já não dão leite e ele nem sequer pode pensar nos seus problemas pessoais. Uma chatice. Uma tarefa hercúlea. É de pôr os bofes de fora. É de suar em bica. É exigir paciência de chinês.
Bom, mas não sejamos totalmente injustos, que Óscar Rocha tem experiência de dirigente no hóquei em patins açoriano. O que é fantástico, dado que maior parte das pessoas nem sonha que possa haver patins nos Açores.
A segunda forma é levar as coisas com naturalidade.
E Isidoro Sousa (Olhanense) personifica essa confiança. Ou melhor, o excelso bigode de Isidoro Sousa transpira, para além de resíduos gordurosos e vapores etílicos, uma enorme dose de determinação. O bigode de Isidoro é uma espécie de último reduto da resistência masculina lusitana, ora convertida a um deserto de metrossexualidade impregnada de geles e loções. Já não há gente nem bigodes assim no nosso futebol. Isidoro é “one of a kind”. “Desenrascanço” é o seu nome do meio. Se os outros andam de BMW e chauffeur, Isidoro circula com o braço dependurado no seu Ford Escort de 1984 pela Riviera algarvia; se os outros andam em spas, Isidoro frequenta o Festival do Marisco e bate records de minis emborcadas numa só noite; se os outros falam em “project finance” e “emissão de obrigações convertíveis”, Isidoro fala em “arranjar uns trocos junto dos industriais conserveiros da região e quem sabe sacar um patrocínio jeitoso à marca de gelados com sabor a sardinha assada”; se os outros tentam ser diplomatas e arranjar as palavras certas, Isidoro não terá pejo em mostrar os pêlos do peito e largar uns sopapos nos oponentes. É por isso que Isidoro revela todas as condições para emparelhar com esse grande mito dos tempos modernos, o verdadeiro Viriato do gangsteirismo que é o Rocha, o saudoso Rocha do Duarte & Companhia.
Bom, mas há sempre uma terceira via, sempre na voga. E essa é a de adoptar uma postura paternalista, distante mas omnipresente, nem bem aqui nem bem ali mas também sim e muito pelo contrário. Digam-me lá se o mui afamado Vítor Magalhães (Moreirense) não se parece com um senhor que até ganhou um determinado concurso aqui há atrasado e que tem nome de utensílio culinário. Até a cair da cadeira o jeitinho é semelhante.
terça-feira, setembro 28, 2010
A Temática do Dirigismo
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2 comentários:
É incrível como o Rocha nunca foi futebolista ;)
Conheci o Óscar Rocha que foi Militar em São Tomé e P nos anos 1961/63. Jogava no Santa Clara e gostava de jogar com a rapaziada da tropa na parada do Quartel. Bom rapaz gostava de o ter encontrado para lhe dar um Abraço.. Ainda o procurei em Beja quando o SC veio jogar mas ele não veio nesse dia. Fiquei com muita pena.
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